Concurseiros contratam auxiliares
(Badauê online - 17/08/09)O prazo entre o lançamento do edital e as provas de concursos públicos está sendo reduzido bruscamente e criando um grande dilema aos candidatos. Como conciliar o tempo curto com a extensa lista de matérias cobradas pelas bancas? O impasse tem feito pipocar métodos e estratégias nos cursos preparatórios, livrarias e internet. A peregrinação em busca de uma vaga no serviço público esbarra em como solucionar essa equação.
Foi pensando nisso que o servidor público e empresário André Mendes, 33 anos, procurou a ajuda de uma coach para colocar na balança e descobrir o que estava interferindo a sua preparação. Há dois meses de prestar a prova para técnico legislativo do Senado, ele ainda estava digerindo a reprovação, por um ponto, no concurso para analista de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). "Senti como se tivessem tirado a minha vaga das minhas mãos. Fui prejudicado pelo resultado, que alterou os gabaritos de todos os candidatos", diz.
"Os objetivos do André sempre estiveram claros, mas ele precisava entender que de nada adiantaria continuar cultivando essa raiva", explica Sabrina Ferroli, da Homero Reis e Consultores. O trabalho de coaching desenvolvido por ela foi indicado para que André Mendes não continuasse se prejudicando. "Vim em um ritmo de estudo muito bom desde o início do ano passado, tinha me saído bem na prova para gestor do Ministério do Planejamento, mesmo não sendo aprovado. Estava animado e motivado", lembra o bacharel em cinema e relações internacionais.
A prática do coaching é mais conhecida nos meios organizacionais e, apesar de não ter um conceito predeterminado, consiste em um processo de expansão de consciência, autoconhecimento e alcance de objetivos. A maior vantagem aos concurseiros é a busca da estabilidade emocional, levantando as expectativas e as reais motivações, o que auxilia diretamente na sistematização do estudo. Apesar da proximidade com a terapia tradicional, o coaching não tem a pretensão de substituir o trabalho dos psicólogos - ainda que esses profissionais possam ser coachs. "O coach não aconselha, ele põe um ponto de interrogação na consciência do coachee (cliente do coaching). É bem diferente do processo psicoterapêutico", justifica Sabrina.
No caso de André Mendes, foram seis sessões - normalmente são recomendadas 10 sessões, que tem custo de R$ 250, cada - para ajudá-lo a mudar de atitude e reverter o que parecia um fracasso em um incentivo. Ele aprovou o método: "Sempre fui cético e nunca achei que qualquer coisa que parecesse com terapia fosse para mim. Estudava por estudar, com ânimo zero. Refiz minha rotina".
Consultor para assuntos pessoais: Assim como as empresas, as pessoas contratam profissionais para atingir suas metas de vida
Claudia Jordão
Largar o emprego e abrir uma pousada no Nordeste. Encontrar o par perfeito. Ser o chefe do setor. Duplicar o valor do contracheque. Todo mundo tem um sonho ou meta na vida – ou, pelo menos, gostaria de ter. Há, porém, dois tipos de pessoas: as que perseguem incansavelmente o objetivo e as que deixam o plano esquecido em alguma gaveta, à espera de um incentivo externo para levá-lo adiante. Este segundo grupo é o filão dos profissionais que incentivam, apoiam e ajudam as pessoas a traçar um plano de ação rumo a um projeto próprio. São os chamados coaches pessoais, especialistas em analisar conjunturas e criar estratégias, sempre com foco na meta.
Os coaches surgiram no meio esportivo na década de 70 (o termo significa técnico de atleta, em inglês). Migraram para as empresas, nos Estados Unidos, nos anos 80, com o objetivo de tornar os funcionários mais competitivos e comprometidos com os lucros. Há dez anos, chegaram ao Brasil, primeiro para atuar na área corporativa. Agora, são cada vez mais requisitados por pessoas com metas pessoais a atingir, seja em questões de relacionamentos, seja de aparência, de qualidade de vida ou de carreira.
A profissão de coach não é regulamentada. Mas, para aplicar a metodologia de coaching, é necessário passar por um treinamento específico, baseado em técnicas, ferramentas e abordagens desenvolvidas por estudiosos da área ao longo dos últimos 30 anos. (...)
A formação do coach existe em diversas instituições pelo mundo. Mas quem procura um profissional deve ficar atento: há muita gente oferecendo o serviço sem especialização. Para evitar os charlatões é preciso levantar os casos em que o profissional trabalhou, tempo de atuação, formação e certificados.
“Coaching lida com pessoas, mas não é terapia”, explica Villela da Matta, presidente da Sociedade Brasileira de Coaching (SBC), que é formado em administração, ciências da computação e psicologia. “Não investigamos o passado de nossos clientes, nem porque são daquele jeito ou agem de determinada maneira. Nosso negócio é pensar à frente e em como sua meta será alcançada.” (...)
Identificada a meta, cabe ao coach levar a pessoa a minimizar ou eliminar tudo aquilo que a impede de atingir seu objetivo. É sua função também ajudá-la a enxergar seus potenciais, para que sejam explorados. “O coach nunca diz ao cliente o que ele deve fazer”, explica o coach Claudio Behr. (...) Quem atua na área de assuntos pessoais terá mais prestígio se tiver formação específica no seu ramo, como Behr, 35 anos, que é coach e professor de física de cursinho pré-vestibular. Graças a ele, a estudante Érika Moraes, 20, conseguiu organizar seus horários, driblar sua tensão e conquistar uma vaga na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), sua grande meta. “O coaching me ensinou a ter confiança e me fez acreditar que é possível alcançar nossos sonhos”, diz Érika.
O coaching é bastante popular no meio artístico. Atores globais como Juliana Paes, Cauã Reymond e Grazi Massafera recorrem a este profissional para ajudar no desenvolvimento dos personagens. “Sou expansiva, gesticulo muito e me mexo demais”, diz Taila Ayala, que acaba de estrear na novela “Caminho das Índias”, da Rede Globo. “Vi que isso não cabe em determinadas situações e aprendi a investir no meu olhar.”
A procura pelos cursos cresce exponencialmente. Só a Sociedade Brasileira de Coaching formou 300 profissionais em 2008, um crescimento de 300% em relação ao ano anterior. Lá, a primeira etapa do curso engloba 80 horas de teoria, mais 25 de prática, além de 100 horas de treinamento. Custa a partir de R$ 5 mil. Quem quer atuar na área executiva precisa fazer outras 80 horas de treinamento. Cada sessão de coaching, com duração média de uma hora, custa de R$ 150 a R$ 300. O processo geralmente chega ao fim depois de 12 sessões, ou cerca de três meses.(...)"
- Priscilla de Sá é executive coach, formada por Villela da Matta (em destaque na reportagem) e é membro da Sociedade Brasileira de Coaching. Atua como career coach e está à frente deste blog.